Dicas de como se prevenir de acidentes de moto-Dicas de mecânica de motos

domingo, 23 de dezembro de 2012

COMPRAR CHÃO, UM NEGÓCIO DOLOROSO


UM NEGÓCIO DOLOROSO

Antes de mais nada, sei que muita gente não gosta de falar sobre acidentes. Para alguns, esse papo pode soar como desmancha-prazer. Para outros, é como falar de corda em casa de enforcado. Mas, vamos e venhamos: o que é pior? Aceitar uma conversa nua e crua ou tornar-se uma vítima da desinformação?


Aceitar uma conversa nua e crua ou tornar-se uma vítima da desinformação? Então, comecemos por colocar os pés no chão — apenas os pés. Muita gente se torna vítima de acidentes porque, antes, caiu numa cilada. Sem perceber, algumas pessoas passam a confiar naquele sofisma segundo o qual “se até ontem não me aconteceu nada, não será hoje que vai acontecer…”
Mais curioso é o caso dos que unem a inexperiência àquelas fantasias inspiradas em filmes de super-heróis. Acham que os acidentes mais sérios ou resultam em morte instantânea ou em algum tipo de lesão que logo se resolve, com um gesso charmoso e divertidas sessões de fisioterapia.
Por incrível que pareça, poucas pessoas têm consciência das outras hipóteses, principalmente das lesões que deixam a vítima incapaz para uma vida normal. Quem duvidar disso, faça uma visita à Rede Sarah de Hospitais do Aparelho Locomotor, que é referência internacional nessa área médica.
Há algum tempo eu conversei longamente com Eduardo Biavati, pesquisador do Centro de Pesquisas em Educação e Prevenção do Sarah. Ele me disse que o desconhecimento sobre as reais conseqüências de um acidente fica claro sempre que os funcionários conversam com os alunos nas palestras que fazem em escolas e também quando levam os jovens para conhecer os centros de reabilitação do hospital. Os visitantes ficam chocados ao descobrirem como são as seqüelas.

O QUE MOSTRAM AS PESQUISAS

Na ocasião, o Eduardo mostrou-me uma pesquisa realizada em 1999 sobre morbidade das causas externas de internações. É uma das poucas no mundo que se aprofundam nos acidentes com moto, pois a maioria se limita à questão do uso do capacete. Vale lembrar que não são abrangidos os casos fatais, porque a Rede Sarah não atua com foco no atendimento de emergência, mas sim no trabalho de reabilitação. Eis o que mostra a pesquisa sobre os motociclistas internados nesses hospitais:
Capacete – entre as vítimas com lesão cerebral, quase metade (46%) usava capacete no momento do acidente. Traduzindo: com ou sem capacete, a partir de certos níveis de impacto é praticamente impossível evitar lesões cerebrais. Uma verdade tão clara entre especialistas quanto subestimada entre leigos. Mas desde já, vai aqui um esclarecimento: ninguém está concluindo ou insinuando que esse equipamento é inútil ou dispensável. Nada disso. O capacete protege, minimiza conseqüências de acidentes e deve ser usado sempre. O que o estudo sugere é que, nos impactos muito fortes, nem o capacete garante que o piloto está livre de lesões cerebrais, ainda que em menores proporções. Mas lesão cerebral, por menor que seja, sempre é coisa séria.
Lazer – a maior parte (59%) das internações de acidentados com moto na rede Sarah é de pessoas que utilizavam a moto no lazer quando ocorreu o acidente. Apenas 28% dos casos dizem respeito a pessoas que estavam trabalhando. Esses números mostram que, apesar da grande expansão dos serviços de motofrete, em que milhares de pilotos se expõem diariamente à correria pelas mais perigosas ruas e avenidas, o maior número de vítimas com seqüelas está em outro grupo: os motociclistas que saem apenas para passear e se divertir.
Áreas urbanas – ao contrário do que se observa nas internações relacionadas a acidentes de automóveis, no caso de motos a maioria dos acidentes ocorre em áreas urbanas (57%). Aí está mais um ensinamento: quem usa equipamento completo somente para pegar a estrada talvez não saiba dos riscos que corre na cidade.
Lesões típicas – além daquelas já citadas, existe um padrão de lesão que, estatisticamente, também está associado a acidentes de moto. Trata-se da chamada lesão do plexo braquial. Trocando em miúdos, são aquelas que afetam a região do pescoço e ombros. A conseqüência é que muitas delas reduzem ou simplesmente eliminam os movimentos dos braços. Entendeu agora porque existem aqueles macacões com grossa proteção na região dos ombros e até nas costas?

VOCÊ É O VEÍCULO

Conheço um médico que nunca trabalhou na Rede Sarah, mas tem no currículo as experiências de médico-cirurgião, motociclista apaixonado e ex-vítima de acidente de moto. O nome dele é Max Carlos Braga Antão. Segundo o Max, a melhor maneira de compreender o que ocorre em um acidente com colisão é imaginar-se caindo do 2o ou 3o andar de um prédio. “Aí então, considere que as lesões resultantes de um acidente de moto podem ser bem piores do que a queda dessa altura.” Sua explicação sobre os equipamentos de segurança também bate na mesma tecla. O equipamento é indispensável, pode minimizar muito as conseqüências do acidente, mas não faz milagre! Mesmo que você esteja com capacete, botas e macacão, imagine o que pode acontecer se cair do 3º ou 4º andar…
Max observa que, ao contrário do motorista, que está protegido dentro de uma caixa de metal, o motociclista é, na verdade, o próprio veículo. “Temos apenas um motor no meio das pernas, que nos leva aonde queremos. Por isso, qualquer parte de nosso corpo está sujeita a lesões de todo tipo, seja uma pequena abrasão ou fratura, até algo mais sério, como hemorragia interna, desfiguração da face ou as deficiências neurológicas e suas temidas seqüelas incapacitantes.”
Depois de ouvir o Max, conversei com um médico ortopedista do Corpo de Bombeiros, o capitão Aloisio Gonçalves de Souza Jr. Com a experiência de quem acompanha atendimentos de emergência a vítimas do trânsito, ele usou conceitos de física para explicar que corpos em sentidos opostos somam suas velocidades. Numa colisão, a força cinética do impacto é proporcional ao quadrado da velocidade. Para simplificar, o ortopedista também utiliza a comparação com a queda de um edifício. E cita o exemplo de um motorista dentro do carro. Numa colisão a apenas 48 km/h, o motorista sem cinto de segurança se chocará com o parabrisa com a mesma energia decorrente de uma queda do 3º andar. Se estiver um pouco mais veloz, a 56 km/h, a pressão será superior a sete toneladas…
Por todas essas razões, prevenir é fundamental. A conclusão do Dr. Max é taxativa: “pense duas, três, quatro vezes antes de dizer que o sol está muito quente para você usar o equipamento! Capacete, jaqueta, botas e luvas não foram feitos para se usar só no frio. Para quem quer vento na pele e sol na cabeça, recomendo trocar a moto por um carro conversível!” Mandou bem, Max…

REALIDADE QUE DÓI

Não é para chocar ninguém, mas trata-se de uma realidade que dói mesmo: entre os tipos de lesões que levam motociclistas à Rede Sarah, a maior causa é o comprometimento da medula. Obviamente, estão fora desses registros as lesões cerebrais com morte, já que casos dessa natureza não chegam ao Sarah. Na grande maioria (74%) trata-se de lesões completas, ou seja, com perda do movimento e da sensibilidade. Já nas lesões ortopédicas, que constituem a segunda maior causa de internação, 80% delas afetam os membros inferiores, nas seguintes proporções: perna (50%), fêmur (30,6%), joelho (13,9%), tornozelos e extremidades (5,6%). Depois de ler tudo isso, você ainda tem dúvida sobre a necessidade de usar botas e outras proteções para essas regiões do corpo?

COMO FICA O NOSSO PRAZER DE PILOTAR?

Agora, você deve estar-se perguntando: “diante desse quadro, como fica o nosso prazer de pilotar?”
Bem, quer saber mesmo? O prazer de pilotar pode tornar-se ainda maior, desde que se aprenda a lição a tempo. Isso é o que conta numa conversa sobre segurança.
O que vale, aqui, é ajudar o motociclista a aprofundar o nível de consciência sobre os riscos à sua volta e os meios de se proteger. Vale até estimular sua capacidade de concentração e autocontrole naqueles momentos de excitação com o coice da cavalaria a um leve toque no acelerador. O que não vale é distanciar o motociclista do sagrado prazer de pilotar. Nem há motivos para tal. Afinal, a emoção de pilotar pode ser tanto maior e mais legítima quanto mais clara a consciência dos seus riscos e limites. Vrrummm…

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Fonte: www.motoesporte.com.br

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